24 junho 2006

Será que queres ser protegido? (Actualizado)

Ao ler a revista Computador, do Clube Informática, deparei-me com um pequeno artigo sobre a Intel e de um possível chip que ela está a desenvolver com o objectivo de "nos" proteger de rootkits como o da Sony. Esse chip faria parte da própria motherboard e iria monitorizar as alterações de software, etc. À primeira vista e da maneira como a notícia vem escrita, até parece algo de bom para o utilizador do pc. Mas será?
Alguem acha que a Intel ia perder tempo a desenvolver um chip apenas para proteger o utilizador de rootkits e outros malwares? Alguem acha que a Intel vai dedicar-se agora ao ramo dos anti-virus? E se agora eu disser que esse tal chip será muito mais parecido com os chips que as consolas de jogos tem para evitar cópias piratas de jogos ou impedir que outro sistema operativo seja instalado, desde que não seja o SO da microsoft? Acham bem um pc recusar-se a fazer aquilo que o dono lhe exige? O Palladium não vos diz nada? Já imaginaram ter um pc Intel e ao colocarem um dvd comprado por voces, e ao tentarem ripá-lo para backup ou seja lá o que for, o pc vai impedir que isso aconteça? Ou ao tentarem copiar um cd de audio vosso para colocarem no autoradio, o pc vai recusar-se a faze-lo?! Ou ao instalarem "aquele" programa, o keygenerator ou o crack não vai correr? E o pc, sem a vossa autorização, vai fazer queixinhas aos verdadeiros donos (multinacionais de software, sonys, RIAA, etc) do que estás a fazer e tudo o que tens dentro dele?

A próxima XBOX terá já incluido um sistema que, segundo o que a microsoft diz, servirá para que os sistemas "fiquem mais seguros". Na realidade o que acontece é que esta consola não deixa o utilizador instalar o que quiser e lhe apetecer! Porra! Mas um gajo não gastou umas dezenas de contos nela, porque carga de água é que não pode fazer com ela o que lhe der na gana??? Ainda pior é que será impossível tornear estas restrições técnicas bem como elas serão suportadas legalmente, como nos EUA.

A coisa assim já soa diferente e não interessa muito ser noticiado. Acreditem que este chip ou esta tecnologia ou este Big Brother não é coisa do futuro a longo prazo. Já houve tentativas por parte da microsoft para a existencia desta tecnologia ainda no tempo do XP, mas devido ao desconforto de muita gente, o projecto ficou em standby a depois, passou-se a avançar com ele pela calada e devagarinho... Ao ler os posts dos newsgroups aos quais estou sobrescrito encontrei um artigo muito interessante do Rui Maciel que deixo aqui transcrito:

"Hoje decidi desinstalar o anti-virus da minha instalação de windows. Tratava-se do Norton AV que vinha instalado de fábrica e como a licença expirou e eu já estava farto da janelinha vermelha a intrometer-se, decidi acabar com o seu sofrimento.

Pois bem. Lá abri o painel de controlo e meti-me a desinstalar o que tinha lá do Norton. Então ao clickar no botão aparece-me uma mensagem a informar-me que não possuia privilégios para desinstalar o anti-virus. Isso era muito estranho pois a minha conta era a única no computador e estava assinalada como conta de administrador. Como é que o único administrador presente no sistema não possui privilégios para desinstalar uma aplicação? E quem é que possui privilégios para o fazer?

Esse episódio fez-me aperceber do potencial futuro que se avizinha. Nós, consumidores, compramos uma máquina, queremos fazer algo com ela mas por obra e graça de Nosso Senhor não podemos fazer nada. Porquê? Não temos autorização. Perdemos todos os direitos de fazer o que quisermos com o que é nosso. Os nossos bens, pagos com o nosso dinheiro, não são na verdade nossos. São uma espécie de bem arrendado sempre controlavel (e controlado?) por quem detém verdadeiramente a sua posse.

E é esse o objectivo que a Digital Restrictions Management (DRM) e a plataforma Trusted Computing tentam atingir. O primeiro retira o controle dos dados enquanto que o segundo retira o controle da máquina. Será que, após essas restrições se tornarem prevalentes o uso de material informático torna-se suportável?"

Como conclusão deixo aqui um alerta para todas essas "facilidades" que o software proprietário e essas multinacionais tentam impingir ao utilizador, argumentando que lhes trará mais facilidades e proteção quando na verdade, apenas lhe retiram a liberdade e se protegem a elas próprias na manutenção dos seus lucros! Continuando por este caminho, o utilizador passará a ser apenas um objecto do sistema, e haverá algo que está a controlar mas que não se sabe quem ou o que é, e ainda pior, muito pior, é que parece que o utilizador não está interessado em saber nada disso!

Exige seres tu a controlar o teu pc! Usa software livre! Usa sistemas livres!

(Editado no dia 24 de Junho)

Ps.: Já agora vou deixar aqui umas características do Trusted Computing:

  • Um programador não será capaz de correr um programa que acabou de compilar para código máquina enquanto este não for autorizado e para obter a autorização do consórcio da Trusted Computing, terá que pagar. Será possível compilar para código intermédio que será interpretado ou compilado durante a execução, mas tais programas terão sempre grandes restrições no acesso ao próprio sistema e nunca será possível correr outros sistema operativos desta forma.
  • Obviamente que programas que permitam acesso a material potencialmente protegido por direitos de autor (e.g. mp3, mpeg, DVD, CD, PDF) nunca serão autorizados, excepto quando os donos desses formatos os permitam. Será desta forma que os direitos de autor seram protegidos
  • Mas o pior de tudo, serão as restrições aos próprios dados pessoais. Programas como o Word encriptarão os ficheiros que criarem, impedindo qualquer outro programa de os abrir. Já estou à espera de licenças periódicas em que todos os meses teremos que pagar uma licença para poder utilizar o programa e abrir os nossos próprios ficheiros.

Fontes: Cromo Informatico, pt.comp.so.linux, Richard Stallman

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