14 maio 2008

Será que não há bom software livre em Linux?

Imagina-te num restaurante onde outros colegas como tu cozinham vários pratos. Tu sabes os ingredientes que existem na cozinha, sabes que esses colegas fazem o melhor que sabem com a melhor das intenções. Passas pela zona de self-service, escolhes o que quiseres, sentas-te à mesa e comes o que escolheste. Há pratos melhores e outros não tão bons, mas são de boa qualidade. E de certeza que não irás encontrar ingredientes nesses pratos que te possam prejudicar ou deixar-te doente. Tu tens o direito a saber como é que eles foram feitos, podes mesmo melhorá-los, seja a colocar um pouco sal, colocar alguma erva aromática, remover para fora do prato aquela coisa que não gostas. Podes mesmo refazer todo o prato, e ir vende-lo a outro teu colega que o queira pagar, tens esse direito. Podes chamar o cozinheiro que fez esse prato e pedir-lhe uma alteração ou dar-lhe uma recomendação. Totalmente diferente de beberes uma coca-cola que não sabes exactamente o que contem, nem como é realmente feita, nem podes pedir ao seu fabricante que a altere ou dar-lhe recomendações. Pagas e bebes.
Então se podes comer desses pratos que teus colegas cozinham, se sabes como são feitos e, importante, podes alterá-los para o teu gosto, vais dizer mal da comida? Bem, poder até podes, mas se calhar não te fica bem...

Vou recomeçar.... Não é a primeira vez que encontro comentários depreciativos sobre software livre ou mesmo distribuições de GNU/Linux, seja em fóruns, comentários de blogues, twitter e outros locais.

  • "Software x tem um aspecto foleiro"
  • "Programa y na distribuição z é muita rasco"
  • "É pena que não haja muito bom software em Linux"
  • "Programa k é uma boa merda".
É certo que cada um tem o direito a ter uma opinião sobre o software que usa, seja boa ou má. Na minha opinião, o software livre que uso nas distribuições de Linux e até no próprio Windows, considero-o muito bom, algum mesmo excelente e que não o troco por nenhum outro. Refiro-me ao Amarok, K3b, Gimp, Firefox, Thunderbird, Pidgin, etc... Também há software com poucas opções, aspecto básico, mas normalmente específico para certos trabalhos e como tal fazem exactamente aquilo que é necessário. Muito software nem sequer tem interface gráfica, apenas funciona pelo terminal, cheio de opções e até meio complexo de controlar, mas é extremamente potente. Se eu não gostar de programa x posso sempre usar o programa y ou z, tenho essa liberdade e direito. Outros tem o direito a não gostar e a preferir software proprietário, seja freeware, shareware, seja pago.

Devemos ter em mente que o software livre que se encontra numa distribuição de Linux, deve-se a milhares de horas de trabalho duma imensa comunidade que se esforçou para o construir, melhorar, corrigir de bugs, traduzir, optimizá-lo para que fosse possível usá-lo no objectivo para que foi criado, pelo utilizador comum. Esse utilizador irá usar livremente o programa, se calhar até dentro dum sistema operativo GNU/Linux que nem sequer o pagou, pois é grátis. Como qualquer software livre ou opensource, o código fonte dos programas e até do sistema operativo, está à disposição do utilizador para que o possa alterar ao seu gosto, seja no que respeita ao aspecto ou às funcionalidades do mesmo. Tem esse direito e é livre de o fazer!

Se podemos melhorar o software em causa, e até tendo conhecimentos para tal, acho que fica mal dizer que um programa é uma merda, sendo ele até reconhecidamente um dos melhores na sua área, e grátis, livre e multiplataforma (Ex. Firefox, Gimp, Vlc, OpenOffice). Pior é dizer que não há muito bom software em GNU/Linux! O próprio GNU/Linux é um exemplo dum excelente sistema operativo. E de borla.

Não me parece bem nem lógico dizer mal da comida que se faz em casa com os ingredientes que temos e quando a podemos melhorar, mas se se preferir ir comer sempre fora em restaurantes, cada um é que sabe...
E tu? Tambem achas que não há bom software livre em Linux?


14 comentários:

Anónimo disse...
14 maio, 2008 20:30
 

Um texto excelente que deveria/deve ser mais divulgado:

Porquê software livre?

http://linemas.dyndns.org/livre/media/Porque%20Software%20Livre.pdf

do site http://linemas.dyndns.org/livre/

:)

Falando francamente, o problema é que para cada software excelente existem 2 outros igualmente ótimos e 10-50 programas que você nem mesmo pensa em olhar. O leigo não sabe disso, vê apenas o primeiro e as vezes o primeiro que ele vê não é o que devia ter visto para formar uma opinião geral.

A diversidade pode ser um problema na apresentação da imagem, apesar de ser o maior valor do mundo GNU/Linux.

@Oliva
Gostei desse site!

@Mitre
O problema é que quem diz tal coisa não é propriamente um leigo... Muito pelo contrário.
Não interessa quem, pois há muita gente assim.

Anónimo disse...
14 maio, 2008 22:02
 

A diversidade de escolha não é má para o utilizador dito comum. Acham mesmo que ele vai andar a testar várias aplicações? Ele vai é perguntar a alguém com mais conhecimentos qual a melhor aplicação para determinada tarefa ou então utiliza as que já estão instaladas.
Só quando ele começa a ficar mais à vontade com o sistema é que é capaz de experimentar algumas aplicações, mas de forma lenta e cuidada.

Há sempre quem instale tudo e mais alguma coisa, mas num "utilizador comum" isso não é muito frequente (fora as porcarias em windows para o messenger e as aplicações que seriam suposto dar acesso a vídeos porno)

Quando quem diz tais coisas não é leigo, então também não é sério. Aí eu nem ligo, são pessoas prontas para difamar a qualquer custo.

Mas eu vejo muito disso em pessoas leigas. Me perguntam: qual é o melhor navegador ? Eu digo, experimente o Firefox. Aí o camarada vai abrir uma "daquelas páginas" e coloca a culpa no navegador...

Quer outra: O OpenOffice é bom mesmo ? Eu digo: Sim, claro. Pode experimentar... aí o camarada tenta abrir aquele doc "versão sabe Deus qual é" e ele não abre corretamente, por razões óbvias. De quem é a culpa ? Da MS, claro, mas vai explicar isso para o sujeito...

E quanto ao visual da interface ? Se ela não é idêntica as que ele já conhece, é um problema (pessoal não sabe o que é "plágio")

Mais um ? Um sujeito passa a vida inteira lutando com um windows e utilizando o ctrl+alt+del. É tão instintivo que ele nem percebe. Mas basta ele ter que fazer o primeiro ctrl+alt+backspace no linux para jogar a culpa nos caras que programaram a interface.

E por aí vai. Eu posso passar o dia inteiro listando formas de como as pessoas (e eu estou falando de iniciantes) transferem os erros dos aplicativos fechados para os livres e dizem que os livres não funcionam. Eu ouço muito isso aqui. Muito mesmo.

Especialmente a do OpenOffice e Firefox. Triste, muito triste.

Achei muito bom o artigo, e coloquei uma ligação para o mesmo a partir de outro artigo meu sobre assunto semelhante.

O "Oceano Atlântico lingüístico" que nos separa é engraçado. Desconheço o significado de várias palavras, mas foi possível captar a idéia.

Anónimo disse...
15 maio, 2008 00:39
 

Gostei do artigo e vou recomentar pra alguns amigos leigos em SL.
Interesantíssimo...

Realmente é triste a sociedade criticando algo que não conhece.

Pra mim todos SL são ótimos, uns não é do meu gosto mais mesmo assim acho ótimos. KDE é um que não me dou bem, mais não meto a crítica, não chego a "ofender" o mesmo. É questão de costume. Se alguem se acostuma com aquele SL, ele gosta e fala bem, é no caso do Firefox, muitos usuários do "janela" gostam, mais alguns não sabem nem que ele é SL. Tosco né? :c/
É um meio de mostrar que o SL é ótimo e perfeito. Melhorado como uma receita. :c)

Parabéns pelo artigo e abraços...

Eu posso falar por experiência própria que, tendo descoberto recentemente o mundo SL, o software livre e o espírito comunidade são demasiadamente subvalorizados em prol de multinacionais com 90% de cota de mercado.
sempre usei windows e sempre tive problemas com o respectivo SO, mas tenho uma cultura diferente: sou formado ao nível de secundário em Tecnologias de Informática e estou no ISEL num curso de Telecomunicações e portanto sei distinguir quais os problemas respeitantes ao software proprietário, ao software livre ou mesmo ao utilizador.
Já referiram que o sistema baseado em Linux como SO levanta um problema que é: em casos pontuais n existe software específico disponível para o SO, noutros casos, a fome deu lugar à fartura.no entanto, este último aspecto é o que torna o SL tão poderoso e flexível!

Muitas das pessoas nem sabem que os principais produtos comercializados e/ou serviços que usam são por base, sistemas linux e/ou software livre: a maior parte dos servidores e aqui refiro-me aos mais importantes, são baseados em linux, os telemóveis usados por cada um de nós idem idem, aspas aspas, para lá dos servidores serem sistemas linux, usam aplicativos disponibilizadores de serviços que são software livre, como é o caso do apache e do mySQL.

Não é o software livre que é fraco ou mesmo os SO's livres que são fracos, não... não estão é tão difundidos e/ou aceites. isso faz com que grandes empresas de software não respondam a estes mas sim aos sistemas proprietários. No entanto, de ano para ano os SO livres crescem de produtividade (embora já sejam substancialmente superiores aos proprietários) e vão ganhando utilizadores à M$!

bem dito Linux...

Parabéns pelo artigo. a comparação foi excepcional. Continuem

Sinceramente não esperava por estas boas reações ao artigo. Foi algo que li por aí que me deu volta ao estomago e fez criar este artigo, seria mais um desabafo, não esperava tão boa aceitação...

Anónimo disse...
15 maio, 2008 10:44
 

Eu trabalho em design e vector design, já testei tudo o que é software por aí. E tenho de usar o Standard da industria que é o Adobe Illustrator e é com toda a minha experiência em vector design (mais de 5 anos) que digo que o Inkscape é de muitíssimas formas vasta-mente superior ao Illustrator.
Claro que o que falta ao oss é dinheiro para fazer campanhas catitas e contratar designers para fazer tudo belo e amarelo.

Anónimo disse...
15 maio, 2008 11:30
 

A minha opinião é de que estamos "quase lá". O pior é o quase. Tenho dois postos de trabalho, um com XP e o outro com Linux (oscila entre Gentoo e Ubuntu). Porquê o XP? Bom, suporte à impressora (HP B9180) e o Photoshop. Infelizmente, o GIMP não chega aos calcanhares do Photoshop (por exemplo, layers não destrutivos - só agora começam a aparecer com o GEGL -, edição a 16 bits - idem - , redução de ruído muito superior no PS, idem para a clonagem, etc, etc). Para mim (e para o meu hobby), são estas "pequenas" coisas que me mantêm agarrado ao XP... :(

De resto, muito contente com o Linux, claro.

Anónimo disse...
15 maio, 2008 22:23
 

Boas!

Excelente trabalho de promoção e divulgação.
Recomendo-vos também que dêem uma vista de olhos a este jovem trabalho de divulgação que também parece muito bom, se entretanto não o conhecem já...
http://filosofialinux.pt.vu/
Boa noite

Já conhecia, sim. Mas como dizes ainda está jovem, espero ver mais coisas boas aí...

Cumprimentos

Anónimo disse...
15 maio, 2008 22:57
 

Há excelente software de código aberto, é pena é não haver mais que corra (bem) em Windows.

Julgo que o modo de as pessoas se habituarem é aos poucos... Não adianta tirar-lhes o PC com Windows e todos os programas Microsoft a que estão habituados e obrigarem-nos a usar Linux e seus programas.

Mas se num PC com Windows forem substuituindo os programas e introduzindo o OpenOffice, o Gimp, o Firefox, se calhar na próxima máquina até já podia vir uma distro de Linux com um KDE igual ao Windows e os programas a que entretanto já se habituaram ;)